Palestra Pastor Dressel

Excelentíssimo Senhor Governador do Estado de Sao Paulo,
autoridades presentes,
reverendíssimas autoridades religiosas,
distinguidos Senhores e Senhoras,

Nestas semanas me lembrei de maneira muito intensiva de minhas experiencias junto a este continente durante as décadas de 60 y 70, e pensei em decenas de pessoas e seus currículos fortemente marcados pelas ditaduras que em tais anos havíam-se instalado nesta região do globo.

E agora, com varias solenidades em diferentes paises estou quasi acordando dum sonho que me havia levado ao passado, às experiências pelas quais haviamos passado há 30 anos atraz.

Cabe-me neste momento, antes de tudo, de agradecer-lhes de coração pelo honroso convite e pela consideração  dispensada a minha pessoa.

Aqui nesta cidade – onde há 30 anos atuava o mundialmente conhecido arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns  – não é necessário de dizer muito sobre os tempos duros que forçaram milhares de pessoas ao exilo.

Já desde 1954 – (o que aprendí na ocasião de uma recente visita ao Museu de Memória em Asunção, que era um sofisticado Centro de Tortura) – já desde 1954 até a decada de 80 um elevado número de povos sul-americanos sofreu as consequencias de uma brutal repressão  da parte de ditaduras militares. Para muitos – p. e. no Brasil, em Chile e na Argentina – esses anos tornaram-se num período infernal. „O medo de ser jogado nos porrões atormentava a gente de minha geração cada dia“, lembra-se um dos refugiados acolhido pela Obra Ecumênica de Estudos.

Foi isso o panorama que nos anos de 70 me llevou a apelar aos membros da Junta Diretiva da Obra Ecuménica de Estudos: „Pode-se comparar a situação dos latinoamericanos perseguidos com a situação dos Judeus no „Tercero Reich“, que eram condenados de viver com o medo permanente de serem procurados o pela polícia, ou pela SS e transportados para um campo de concentração mortal. As Igrejas não devem ignorar os acontecimentos nos países sul-americanos por mais tempo. As informações que possuimos sobre a situação são tão  dramaticas que sería irresponsável de aguardar mais.“ Era isso meu apelo.

Permitam-me agora uma breve retrospectiva à aquele período agitado:

Observei que nos anos de 1972 – 73 entre os refugiados brasileiros havia um número elevado de estudantes ou professores da Sociologia e da Filosofia, inclusive professores destacados como o prof. gaúcho Gerd Bornheim.

Lembro-me de

Gastão Heberle, Sociologia
João Carlos de Moura, Sociologia
Franklin e  Eunice Trein, Filosofia
Luiz Ramalho, Sociologia
Suely Rolnik, Sociologia
Nísia Paula e Sousa, Sociologia
Sergio Bezerra de Menezes, Cienc. Soc. e Econ.

Em 1973 – 74, no período pós-golpe-Chile chegaram refugiados academicos de destaque, como o exilado líder da UNE, José Serra, em 1973 membro do FLASCO / Latin American Faculty of Social Sciences – entidade das Nações  Unidas em Santago. O Senhor Governador já contou a história dele e não é necessário de repeti-la aqui.

Logo depois chegou em Europa uma turma de brasileiros „banidos por tempo de vida“, sofrendo o segundo exilo:

Maria Auxiliadora Barcellos Lara, Med.
Reinaldo Guarany Simões, Soc.
Campos Irany, enfermeiro
Costa e Silva Athos Magno,
Irene Löwenstein, Soc.
Aluisio Rodrigues Coelho,
Jaime Rodrigues, Planejamento. Urbano
Vieira Lisboa Marijane, Soc.

O considero um dever absoluto de dizer agora umas palavras in memoriam Maria Auxiliadora Barcelos Lara:

Presa em 196 –  depois de 2 anos com outros 69 presos políticos foi trocada pelo Embaixador Suiço Giovanni Enrico Bucher, sequestrado pela guerrilha urbana que na época agia. Os  banidos por tempo de vida foram acolhidos no Chile de Allende.

Depois do golpe do dia 11 de Setembro de  1973 eles procuraram proteção na Embaixada Mexicana até que conseguiram um vôo rumo à Belgica. No dia 10 de Janeiro de 1974 encontrei-me com este grupo na casa de um refugiado gaúcho em Colonia.  Já no dia 19 de Fevereiro todos eles foram admitidos como bolsistas da Igreja Evangélica na Alemanha. No dia 2 de Abril eles começaram com o curso de língua no campus da Obra Ecumênica.

Em Outubro de 1974 a Dora imatriculou-se na Universidade Livre de Berlim. Pouco antes do exame final do curso de Medicina ela teve de internar-se na Clínica de Psiciatría Berlim-Spandau onde logo a visitei. No dia 1 de Junho ela chocou-se contra um trem da Metro e morreu uma morte muito cruel.

Não pode ter dúvidas de que esta catástrofe pessoal da moça foi uma reação tárdia ao mal-trato que ela em 1969 havia sofrido  na prisão.

Em 1974 recebemos – entre outros – também um estudante da UNIVERSIDADA DE BRASÍLIA, mais tarde professor desta mesma akma mater, o Lúcio de Brito Castelo Branco. A história dele não preciso contar aqui; encontra-se no tomo BRASIL: NUNCA MAIS.

Pemitam-me de mencionar também o caso de nossos bolsias cariócas Maurício e Julieta Nunes de Souza, que chegaram na Alemanha no ano de 1977:

Na época eles eram membros ativos do  MDB Rio de Janeiro. Antes de tudo eram ativos na campanha do Dep. Federal Lysâneas Maciel. Não demorou até que chegaram ameaças de morte por telefone. Lysâneas perdeu seu mandato. O Conselho Mundial de Igrejas o convidou para trabalhar em Genebra. Maurício refugiou-se via Italia e Paris na Alemanha. Sua esposa o seguiu e no dia 3 de Janeiro de 1977 chegaram em nosso campus em Bochum.

Em 1980 foi outorgada uma bolsa ao exilado Flávio Koutzii em Paris –  o último brasileiro exilado.

Hoje todos nós – os que foram acolhidos em momentos difíceis, e os que estenderam a mão para recebe-los – hoje todos nós somos felizes que no Brasil como nos outros países do Cone Sul instalaram-se governos democráticos Fico, em particular, muito feliz ao saber que o Brasil não esqueceu o fato de que também hoje em dia temos refugiados e necessitamos países que se abrem aos exilados.

Dava-me de pensar e me comoveu quando a filha dum estudante sul-africano que o bispo anglicano Desmond Tutu na época me havía entregue ao cuidado pessoal, me escrevia no início do ano:

„Your work with many exiled communities is relevant to us in South Africa too because of the many immigrants from different African countries that hoped for a better and safer life here for their families, and who are being harassed right here by our people for ‘taking our jobs’ and so on. The irony is that during apartheid many of these countries gave South African exiles safe haven. And now when they need us, we are intolerant. We all forget too quickly.“

Com esta reflexão duma joven mulher africana em favor de um espírito aberto perante a miseria dos refugiados quero terminar minhas considerações ao redor do triste tema do „Exílo“.

Agradeco-lhes pela atenção dispensada. Quando, na ocasião do ato em Buenos Aires, depois de minha palestra perguntei uma ex-exilada, se houvesse alguma crítica, ela respondia: „Zu lang“ – falou demais!“ Acontece a mesma coisa hoje aqui: os pastores sempre falam demais … Muito obrigado!